Quando o “preto e branco” ameaça o “colorido”

16 outubro
Foto: Jaelson Monteiro
Pouco mais de 5 mil pessoas, com características interioranas, povoam suas terras. Sua origem está alicerçada por uma tradição de fé. Quando os índios deixaram seus quadrantes, homens e mulheres enfrentaram tudo para erguer o que hoje existe, até uma peste que matava dezenas de homens e mulheres foi encarada e vencida. É berço de inúmeros talentos. Cheia de atributos positivos, a pequenina Pilõezinhos – no interior da Paraíba, enfrenta dias em “preto e branco”. Nos últimos 47 dias a vida deixou de ser colorida para 3 jovens que interromperam, por conta própria, suas trajetórias terrenas. A média é assustadora: praticamente a cada 15 dias um suicídio foi registrado. Um sinal de alerta “bem vermelho” se acendeu e pede atitudes urgentes e firmes de toda a sociedade.

A semelhança entre os casos

  • Tinham entre 20 e 30 anos;
  • Os atos foram consumados pela manhã;
  • O instrumento utilizado foi o mesmo;
  • Todos por enforcamento;
  • Encontrados dentro de casa ou em ambientes próximos;
  • Históricos de desestruturação familiar;
  • Demonstravam isolamento e mudança de comportamento;
  • Instabilidade nos relacionamentos;
  • Pouca ou quase nenhuma vivência espiritual;
  • Ajuda profissional adequada apenas em emergências;
  • Nenhuma terapia profissional registrada;
  • Reclamação da atenção familiar;
  • Registros negativos da infância;
  • Entre outros.

Vítimas

  • Quarta-feira (28 de agosto): Ronaldo Silva França – 28 anos.
  • Terça-feira (10 de setembro): Gabriela Francisco de Souza – 20 anos.
  • Segunda-feira (14 de outubro): Vinicius Ferreira da Silva – 20 anos.

A luta histórica


Foto: arquivo – Jaelson Monteiro

Enfrentamento é uma característica histórica de Pilõezinhos. Desde os primórdios foi assim. Pesquisadores atestam que em 1855 os seus habitantes buscaram saídas para o extermínio da população que se dava por uma peste – de nome incerto – que assolava a região. Há registros orais de que se enterrava um para buscar o outro. Até que rogaram a Deus, sob a intercessão de São Sebastião, a cura. Houve vitória! Não foi fácil também para João Pedro Teixeira – maior líder das Ligas Camponesas da Paraíba, que ainda criança viu a família partir de Pilõezinhos a fim de buscar melhorias em outras terras. José Camelo de Melo Resende – autor do Pavão Misterioso, não olhou para as limitações próprias da época e canalizou na poesia e na arte suas energias, o que levou-o a imortalidade cultural. Igualmente, pode-se contar de Sebastião da Silva – um dos maiores repentistas e violeiros do Nordeste do Brasil, que deixou a serra de Camará para brilhar em várias praças. Em suma, eles não conheceram depressão apesar das frustrações e limitações. Tinham razões de sobra para focar nas dificuldades inerentes a época; eles focaram no melhor da vida e avançaram. Usavam enxada, viola, lápis e livros ao invés de celular. Comiam feijão e farinha ao invés de lasanha e estrogonofe. Rapadura ao invés de guloseimas. Consumiram frutas e verduras livres de agrotóxicos. Suas inspirações eram seus pais ou grandes vultos da literatura. Tinha-se mais tempo em família e apenas o necessário. Foi uma geração forte!
Enfrentamento é uma característica histórica de Pilõezinhos. Desde os primórdios foi assim. Pesquisadores atestam que em 1855 os seus habitantes buscaram saídas para o extermínio da população que se dava por uma peste – de nome incerto – que assolava a região. Há registros orais de que se enterrava um para buscar o outro. Até que rogaram a Deus, sob a intercessão de São Sebastião, a cura. Houve vitória! Não foi fácil também para João Pedro Teixeira – maior líder das Ligas Camponesas da Paraíba, que ainda criança viu a família partir de Pilõezinhos a fim de buscar melhorias em outras terras. José Camelo de Melo Resende – autor do Pavão Misterioso, não olhou para as limitações próprias da época e canalizou na poesia e na arte suas energias, o que levou-o a imortalidade cultural. Igualmente, pode-se contar de Sebastião da Silva – um dos maiores repentistas e violeiros do Nordeste do Brasil, que deixou a serra de Camará para brilhar em várias praças. Em suma, eles não conheceram depressão apesar das frustrações e limitações. Tinham razões de sobra para focar nas dificuldades inerentes a época; eles focaram no melhor da vida e avançaram. Usavam enxada, viola, lápis e livros ao invés de celular. Comiam feijão e farinha ao invés de lasanha e estrogonofe. Rapadura ao invés de guloseimas. Consumiram frutas e verduras livres de agrotóxicos. Suas inspirações eram seus pais ou grandes vultos da literatura. Tinha-se mais tempo em família e apenas o necessário. Foi uma geração forte!
Foto mostra a vida simplória da cidade.
Os desbravadores da cultura de Pilõezinhos inspiraram outros jovens. Basta ver como Genival Azeredo – atual secretário de educação de Bananeiras e ex-diretor do Colégio Agrícola da UFPB – Campus de Bananeiras, e seus irmãos, ocuparam espaços nas universidades. Uma linha familiar de graduados, mestres e doutores. Eles também enfrentaram dificuldades imensuráveis em razão da escassez de recursos da família. Quem conheceu a vida de Severino Galdino e Tezinha sabe como tudo se deu. Mas eles venceram! Hoje, as universidades estão repletas de jovens piloezinhenses e alguns já estão sendo aproveitados pelo mercado de trabalho. São professores, fisioterapeutas, assistentes sociais, advogados, odontólogos, enfermeiros, farmacêuticos e etc.
Observa-se também que a veia poética e artista ficou viva ao longa da história. Além de cantores e poetas, hoje Pilõezinhos tem o maior número de radialistas em atuação da região (levando-se em consideração a proporção populacional). Sem deixar de realçar a importantíssima participação dos talentosos fogueteiros locais que abasteceram as cidades vizinhas com uma famosa produção de fogos de artifício, que também servia para ilustrar os festejos do padroeiro São Sebastião.

O que houve Pilõezinhos?

Sair do status de cidade dos artistas, poetas, fogueteiros, radialistas, repentistas ou do Pavão Misterioso para uma cidade com preocupante índice de suicídio é duro demais para quem viveu e vive esta história. O que houve com a nova geração? Por que ela não produz mais líderes, projetistas e sonhadores? Onde erramos ao permitir crescer esta geração dos cabisbaixos? O que vamos fazer?

Na prática 

  • Os campos profissional e espiritual devem atuar em conjunto e, para isso acontecer, Igrejas e Prefeitura precisam trabalhar em parceria.
  • Criar espaços ‘discretos’ de escuta e acolhimento para os casos que o sistema público não consegue identificar. Para onde encaminhar os desesperados que buscam o padre ou pastor? Esses não batem a porta do posto de saúde ou CRAS.
  • Agentes de Saúde, professores e líderes comunitários são fundamentais na identificação de comportamentos de merecem atenção redobrada. Para onde e como encaminhar?
  • O município efetivou psicólogos (concursados) e logo a demanda aumentou. Identifica-se também a necessidade do serviço de psiquiatria.
  • Promover palestras, rodas de conversa, podcast’s, seminários ou afins.
  • Constituir um banco de dados para fomentar estratégias, planos e serviços.
  • Como e quem vai trabalhar com as famílias desestruturadas? Quais as estratégias serão assumidas por grupos, serviços e movimentos que se envolvem com a temática da família?
  • Como e quem vai acompanhar namorados e noivos, os futuros pais e chefes de famílias?
  • Para situações de crise (surtos) o que se oferece?
Enfim, o debate não para por aqui. Inúmeras outras saídas concretas podem ser levantadas. O importante é que todos somos chamados a integrar o grande exercício em favor da vida. Podemos contar com você?
Rafael San – ManchetePB

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